Brendan de Beer
Não podia ter acontecido numa altura pior. O turismo, de uma forma directa ou indirecta, é o ar que todos os residentes do Algarve, nacionais ou estrangeiros, respiram. E os casos, quase diários nas últimas semanas relatando ataques brutais e, por vezes, até mortais a turistas britânicos e irlandeses na zona de Albufeira, vão certamente ter um custo. Resta-nos esperar que seja apenas a curto prazo.
A verdade é que, juntando os vários casos ao longo dos últimos anos, o Algarve pode ser descrito com facilidade por qualquer jornalista como um sítio de evitar, se assim o entender.
No fim-de-semana passado, o Daily Star falou em "receios que mais uma criança pode ser raptada como foi a Madeleine McCann" se não forem instaladas câmaras de vigilância na região inteira. Mais alguns jornais vendidos e mais alguns turistas que não estarão no Algarve este Verão.
Enquanto nem todos os britânicos recebem as notícias através dos tablóides, a informação dada por entidades como a respeitada BBC e o próprio Ministério de Negócios Estrangeiros Britânico tem falado sobre estes crimes como se fossem próprios do Algarve e que acontecem regularmente. A luta que os agentes do turismo no Algarve enfrentam é tremenda. Anos de promoção são desfeitos num ápice.
Os melhores embaixadores que o Algarve tem, e sempre teve, são os residentes estrangeiros que aqui residem. Conseguem corrigir boatos infundados e transmitir uma boa imagem do Algarve. O problema agora é que eles também começam a acreditar que há zonas de Albufeira que não devem ser visitadas. Eu próprio não aconselhava a ida depois de uma certa hora. Mesmo durante o dia, fico com a sensação de que não espelham em nada o Algarve que eu fiquei a conhecer durante os últimos 14 anos que cá vivo.
A única forma de recuperar a má imagem de Albufeira e eventualmente do Algarve será através de um aumento do efectivo policial, bem como na eventual captura dos criminosos que têm espalhado insegurança na cidade. Uma melhoria na relação entre a comunicação social estrangeira e as forças policias e a diminuição de desconfiança entre as ambas as partes só poderia ajudar no combate à criminalidade, por mais pequeno que o crime seja.
Os tais cem polícias que virão em Julho para patrulhar as praias, zonas de lazer e diversão nocturna, não são suficientes. Tendo em conta este número insignificante, para as centenas de milhares das pessoas que estão a preparar a vinda para o Algarve, este reforço é tão pequeno que nem vai servir para "inglês ver", apesar de isso ser o objectivo.
Na nossa redacção, o interesse nos ataques a turistas britânicos na zona de Albufeira é apenas comparável com o caso Madeleine McCann.
Os relatos de turistas que foram alvo de um ataque nas últimas semanas no Algarve são quase diários. Já temos dezenas de e-mails em que pessoas estão a prometer não vir ao Algarve.
Há outros e-mails em que pessoas, cuja ignorância talvez seja admissível, nos perguntam se é seguro viajar até ao Algarve este Verão.
O nosso ganha-pão, o turismo, sofreu um abalo, e apenas através de acções concretas e visíveis vai ser possível convencer os turistas que o Algarve continua a ser um dos mais seguros destinos na Europa.
Tenho um orgulho tremendo de ser associado com Portugal - um país acolhedor e que me ensinou a ser mais humano. Por isso devemos proteger essa humanidade preciosa deste povo e fazer tudo que esteja no nosso alcance para que os indivíduos que não partilham esse sentimento não o destruam.
Sem comentários:
Enviar um comentário