sexta-feira, junho 17

Surpreender

António Perez Metelo

? Das sóbrias palavras proferidas pelo primeiro-ministro indigitado destaca-se a ambição de surpreender. Surpreender pela positiva os mercados, para que voltem a confiar na saúde financeira da República Portuguesa e se abram de novo aos bancos e ao instituto que gere a dívida pública em Portugal, como acontecia antes de rebentar a corrente crise das dívidas soberanas na Zona Euro. No seu improviso, Passos Coelho referiu expressamente que o regresso aos mercados deverá dar-se, segundo o acordo de assistência, dentro de dois anos. Surpreender neste campo só pode, assim, significar que se conseguiu anular o défice público excessivo, não em três, mas sim em dois anos apenas. O que continua a parecer-me possível já que o défice ordinário do Estado em 2010, isto é, o défice expurgado de receitas e despesas irrepetíveis, foi de 7,9% (e não de 6,8% ou 9,1% ...). Acontece que, devido ao mau contra-exemplo da Grécia, não basta voltar a acelerar a trajectória de ajustamento das finanças públicas, como Portugal já demonstrara saber fazer nos dois acordos de estabilização com o FMI e no período anterior 2005/2007. Agora é também necessário dar garantias de sustentabilidade desse reequilíbrio financeiro reencontrado. E aí tem de entrar em campo a economia, o regresso ao crescimento económico continuado. Como não há soluções mágicas, do que se trata é de surpreender através dos incentivos possíveis para manter a aceleração das exportações, para que possam superar as previsões do FMI e da OCDE, reduzir (se possível com a ajuda de uma gradual substituição de bens e serviços importados) o défice externo e minimizar a severidade da recessão neste ano e sobretudo no próximo. E o sinal de apoio a quem se bate em concorrência com o exterior é também um indicador de atractividade para o futuro investimento directo externo. Finalmente (mas não por ordem de importância!), surpreender no plano social é desenhar programas de apoio aos mais fustigados pela crise, com uma definição clara de quem precisa de ver minimizadas as suas perdas de rendimento até que os ganhos líquidos de emprego dêem a volta ao aperto aflitivo do cinto que se espalha pelo País.

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