terça-feira, junho 14

O Novo Governo

José Ferreira Machado


O país votou! O país deu a vitória ao PSD, o único partido que apresentou um programa de governo.
Esse programa era detalhado e, aspecto fundamental, incorporava (e nalguns casos aprofundava) o essencial dos pontos acordados com a troika FMI/BCE/UE, contrapartida de um financiamento externo de 78 mil milhões de euros. Todos o sabiam. A maioria apoiou.
Os três partidos que assinaram o acordo com as três instituições internacionais receberam 4 milhões 355 mil votos. Os partidos que se opuseram a esse acordo receberam 1 milhão 198 mil votos.
O ‘programa da troika’, como muitos depreciativamente lhe chamam, foi, pois, amplamente legitimado nas urnas. Esse programa contempla o mais amplo programa de reformas estruturais jamais encetado em Portugal. Os portugueses votaram, assim, em muito mais do que uma mera troca de cadeiras. Votaram a favor de uma alteração significativa e ousada da sociedade e da economia, abrangendo áreas tão sensíveis como a fiscalidade, a legislação laboral ou a divisão administrativa do território.
A constituição do novo governo não pode sabotar o pendor reformista deste voto. Isto significa que, por exemplo, nas áreas-chave do governo económico (designadamente finanças, economia e trabalho), não podem estar intérpretes que tenham dúvidas ou reserva mental quanto à direcção e profundidade das reformas. Esta preocupação parece-me fundamental num governo de coligação em que, naturalmente, a distribuição de pastas é renhidamente negociada. O CDS/PP está significativamente ‘à esquerda’ do PSD (ou deste PSD) em matéria de economia. O passado não me sossega: na última participação do CDS numa coligação com o PSD, couberam-lhe diversas pastas económicas, que sempre preencheu com ministros ‘anti-liberais’. Hoje isso seria um erro de casting fatal.

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