terça-feira, junho 14

O que é nacional é bom?

Paulo Ferreira


Resposta: nem sempre o que é nacional é bom. Mas, é verdade, o que é nacional é muitas vezes melhor do que aquilo que importamos, sobretudo no ramo agro-alimentar, no têxtil e no calçado, já que noutros sectores não vale sequer a pena lutar contra o poderio de quem produz mais, melhor e a preço imbatível. De modo que, nas áreas em que somos capazes de oferecer qualidade sem carregar excessivamente no que se cobra, são bem-vindas e bem-vistas todas as estratégias que ajudem a vender o que é nosso e, por essa via, a diminuir a nossa dependência externa.
É esse o objectivo primeiro da campanha "Compro o que é nosso", cujo balanço foi ontem feito pela Associação Empresarial de Portugal, motor da iniciativa. Nesta altura, o programa conta com 670 empresas (a maioria do Norte) e leva um volume de negócios que ascende a uns muito simpáticos 12,5 mil milhões de euros. Ou seja: há razões para manter e fortalecer a aposta, o que será tentado através de uma parceria com a poderosa Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição.
O ponto é este: merecendo a iniciativa toda a simpatia (é sempre preferível comprar um carro a um amigo do que a um desconhecido), tem ela pernas para andar, numa altura em que a crise transforma o preço no factor (ainda mais) decisivo no acto da compra? A garantia de qualidade, atestada pelo selo de proveniência, chega para que o consumidor esteja disposto a comprar o que é nacional, por saber que, em princípio, é bom?
É porventura impossível chegar a uma resposta clara, porque, está estudado, os factores que influenciam a escolha de um determinado produto estão muitas vezes para além do que parece ser um mero e rotineiro acto de compra. Mas é possível ir dando passos para que o é nacional seja bom e não esmague os já parcos orçamentos das famílias portuguesas.
Dois exemplos: criar marcas brancas feitas apenas com produtos portugueses. A quota de mercado ocupada pelas marcas brancas é, como se sabe, cada vez maior. Mas também merece muitas reservas dos consumidores, cada vez mais atentos aos perigos ligados ao uso de produtos de proveniência duvidosa. Se as grandes cadeias de distribuição estiverem dispostas a apostar neste segmento, talvez seja possível alargar, a partir daqui, o volume de negócios.
Segundo exemplo: maior e melhor organização dos produtores. Veja-se o caso da cereja, retratado nas páginas 4 e 5 desta edição: a indústria reclama mais produto, os produtores não conseguem satisfazer o pedido, as importações aumentam, o dinheiro que devia ficar cá dentro vai para fora. Não há união, não há força.

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