sábado, junho 11

Dos melhores do mundo

Daniel Deusdado


Deve ser difícil encontrar um momento da história do Porto em que tantas figuras vivas da cidade sejam referências globais em simultâneo. Ao ouvirmos Barack Obama falar da obra de Eduardo Souto de Moura na entrega do Prémio Ptritzker (conhecido pelo 'Prémio Nobel' da Arquitectura) sente-se qualquer coisa de especial. Souto de Moura é agora um herói à escala planetária. De repente ele é o "É-do-ar-do So-to Mô-ra" na boca do presidente dos Estados Unidos! O mesmo se passa com Álvaro Siza Vieira, também ele 'Nobel' da Arquitectura e a poder beneficiar, em vida, das possibilidades que esse galardão lhe deu para projectar obras pelo Mundo.
Se saltarmos da arquitectura para outras ciências encontramos Sobrinho Simões na investigação sobre o cancro e a quem, mais tarde ou mais cedo, se juntará um prémio mundial (ainda que ele não seja necessário para dar mais brilho e sentido à sua carreira). O Prémio Camões, para Manuel António Pina, é outro momento que torna as nossas ruas, os nossos cafés, como berços de ideias geniais. Havia antecessores neste galardão: Eugénio de Andrade, Sophia Mello Breyner e Agustina Bessa-Luís, todos gente de granito como nós. E claro, o eterno e aclamado (lá fora) Manoel de Oliveira no cinema.
Noutro campo de conhecimento, Jorge Nuno Pinto da Costa ficará como o presidente de um clube que em três décadas se transformou no maior coleccionador de troféus (e não só) da história do futebol mundial. Nem Santiago Bernabéu, pelo Real Madrid, ou Berlusconi, pelo Milão, foram tão longe. E não se trata apenas de vencer títulos mas o facto de o Porto ter ganho uma indústria ligada ao futebol pela sua mão (e em certo sentido, embora em menor escala, também pela de Valentim Loureiro).
André Villas-Boas é um nome seguinte nas referências mundiais 'made in Porto'. Que começa na Foz e tem o 'acaso' da proximidade com Bobby Robson, um mago do futebol que ajudou a sedimentar a cultura de 'ataque' e vitória do F.C. Porto. A possibilidade dada a um jovem como Villas-Boas de contactar com um 'guru' como Robson fez certamente toda a diferença para a sua vida, como ele próprio reconheceu logo no primeiro dia no 'Dragão'.
Acrescente-se outro factor: é Robson que traz Mourinho para o Porto e o leva depois para o Barcelona. É Mourinho que regressa ao Porto, ganha dois títulos europeus, e com esse passaporte vê abrirem-se as portas do Chelsea, levando consigo Villas-Boas. É no Chelsea que se cria o primeiro 'núcleo' de jogadores portugueses (do F.C. Porto) num só clube estrangeiro, junto a um treinador português, e com rotundo êxito. Não por acaso, o (provavelmente) maior empresário de futebol do Mundo é Jorge Mendes. Onde vive? No Porto. E a sede nacional da Liga de Clubes aqui está também.
Esta indústria do futebol vai beber cultura empresarial a Belmiro de Azevedo e à Sonae, grupo que se conseguiu transformar em 20 anos no maior produtor mundial de aglomerados de madeira. Ou a Américo Amorim, o maior empresário corticeiro do Mundo mas, em simultâneo, um estratego financeiro e imobiliário que o tornam no maior accionista da Galp e, provavelmente, maior investidor imobiliário e turístico do país. E como as boas escolas de gestão tendem a replicar-se, há o efeito CIN (maior empresa de tintas da Península Ibérica) ou Efacec e Salvador Caetano (empresas cada vez mais globais e com tecnologias de ponta nos seus negócios). Isto sem esquecer, claro está, o notável êxito do calçado português, da têxtil e do vestuário que resiste, do cluster automóvel que nasce a Norte ou da sagacidade da Ibersol.
Mas haverá mais: Diogo Vasconcelos (um dos principais conselheiros de Durão Barroso, apenas com 43 anos), Paulo Rangel (com uma enorme carreiraN política à sua frente) são nomes - como outros a despontar - que manterão a produção de talentos do 'Porto' na agenda mundial. As universidades de Porto, Braga, Aveiro e Vila Real são o núcleo essencial desta esperança.
O Infante D. Henrique. Lembram-se? Nasceu aqui. Nós também. Estudar, inovar, globalizar. Vamos dar a volta a isto.

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