sexta-feira, junho 10

Jacques Attali: uma ambição para 10 anos

Diogo Leite Campos


A primeira prioridade a longo prazo: garantir a educação dos nossos filhos da infantil à Universidade.
A'Commission pour la libération de la croissance française', presidida por Jacques Attali, publicou um projecto para a França intitulado ‘Une ambition pour 10 ans’. É um relatório de algumas centenas de páginas. Dada a sua qualidade, penso que merece mais uma referência, destacando a sua síntese inicial, pois não é possível dar conta de tudo neste pequeno espaço. Assinalam-se primeiro as grandes mudanças que estão a ter lugar no Mundo e que afectarão, em França, cada família e cada empresa. Devendo a França preservar a sua posição nestas mudanças.
Propõem-se seguidamente três exigências fundamentais que deverão ser seguidas por qualquer governo, seja qual for a orientação política, ‘independentemente de outras reformas que uma maioria pretenda aplicar segundo as suas escolhas políticas, para deixar amanhã, aos nossos filhos, a possibilidade de também eles fazerem livremente escolhas colectivas’.
As três exigências sociais são: uma exigência de verdade: afirmar as dificuldades e as vantagens; uma exigência de equidade: ‘a acção determinada e necessária que devem levar a cabo as gerações hoje no poder só poderá ter sucesso se for sentida por todos como legítima’. ‘Cada um deve, pois, ter o sentimento de que os esforços são repartidos equitativamente e que existem verdadeiras oportunidades de mobilidade social’; e uma exigência de legitimidade: é necessária ‘uma governação pública eficaz, responsabilidades claras dos actores públicos, acompanhamento em tempo real das reformas e uma avaliação da sua aplicação’. ‘Sem novas políticas para estimular o emprego e equilibrar as finanças públicas, o crescimento manter-se-á muito fraco’.
A conjunção do envelhecimento demográfico e do desequilíbrio das finanças públicas coloca a França em perigo de endividamento crescente e de perda de competitividade. A dívida pública do país pode ultrapassar largamente 100% do PIB em 2020. Concentrar-se-á assim uma parte das receitas no financiamento público, em prejuízo dos serviços públicos e tornando impossível qualquer retoma económica.
O crescimento económico francês reduzir-se-á ainda mais, implicando: ‘mais dívida, menos crescimento, menos emprego, mais injustiça, mais défice e mais dívida’.
É necessário um novo ciclo de crescimento reorientado, social e ecologicamente mais durável. Crescer mais; crescer de outro modo.
‘A França que queremos deve dar à juventude a prioridade em qualquer acção pública’. Pretende-se que a economia seja mais competitiva, a sociedade mais livre, mais confiante e mais segura.
‘A França pode e deve construir uma sociedade aberta aos inovadores, aos empresários, aos animadores da vida social, aos criativos, aos investidores’. A França, segundo a comissão presidida por Jacques Attali, deve construir uma sociedade mais justa e mais móvel, controlando o abandono escolar, facilitando a mobilidade social e recompensando o trabalho pelo sucesso.
Para alcançar estes objectivos, há que diminuir a dívida, para obviar ao drama da perda de soberania e diminuir o desemprego para ‘pôr fim ao escândalo do desemprego em massa e, em especial, dos jovens’.
Duas prioridades a longo prazo: ‘a educação e a gestão dos grandes sectores de crescimento, dos quais o meio ambiente, os recursos naturais e as grandes infra-estruturas’.
Não queremos transmitir às futuras gerações uma França esmagada sob uma montanha de dívidas e de reformas não financiadas.
Primeira urgência: não há crescimento sem diminuição da dívida, nem diminuição da dívida sem crescimento.
Recusa-se o fatalismo do desemprego em massa, que é um limite ao crescimento, uma injustiça e um desperdício.
Pretende-se uma sociedade de pleno emprego.
Deve dar-se uma ‘prioridade clara’ às economias de despesas. É possível reduzi-las sem degradar a qualidade do serviço prestado.
O programa de reequilíbrio das finanças públicas é ‘realista’: conduz só a menor progressão das despesas públicas totais; é equitativo: protege o poder de compra dos mais desfavorecidos e protege as gerações futuras; equilibrado: conserva totalmente a universalidade do Estado providência e partilha o peso dos esforços a realizar entre o Estado, as colectividades locais e a Segurança Social.
Passando algumas páginas (‘transferir uma parte dos encargos sociais para o IVA’, ‘desenvolvimento da concorrência’, ‘sistema fiscal mais eficaz e mais justo’), encontramos a segunda urgência: criar emprego e voltar a dar um futuro aos jovens.
Segue-se a primeira prioridade a longo prazo: garantir a educação dos nossos filhos da infantil à universidade. Levando em conta que ‘uma má escola primária é um obstáculo ao crescimento’.

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