Wolfgang Munchau - Editor associado do "Financial Times"
A semana que passou ensinou-nos uma importante lição sobre a economia política da zona euro. Temos duas crises graves e sobrepostas: a deterioração da disputa entre a Alemanha e o Banco Central Europeu (BCE) sobre se os investidores privados devem pagar uma contribuição no próximo empréstimo à Grécia e a possível queda do governo chefiado pelo primeiro-ministro grego, George Papandreu.
No final da semana, a Alemanha capitulou. Papandreu remodelou o executivo, que reúne agora maior número de reformistas. Durante a semana, os comentadores atropelaram-se na ânsia de prever o iminente incumprimento da Grécia e a inevitável ruptura da zona euro. Enganaram-se, embora tudo possa ainda acontecer. A política grega é imprevisível e o Parlamento alemão também. No entanto, nada vai acontecer na próxima semana ou no próximo mês.
Para manter a Grécia no programa da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) é preciso que Atenas cumpra as condições acordadas e que estas sejam razoáveis. O programa tem primado pela austeridade, mas terá de evoluir para reformas a fim de manter a credibilidade. A austeridade por si só não funciona. Porém, e mesmo que fosse implementado um programa sensato, duvido que os gregos conseguissem pagar a totalidade da sua dívida.
Porque haveriam de querer entrar em incumprimento neste preciso momento? Um incumprimento prematuro poria fim à ajuda da UE/FMI, vedaria o acesso aos mercados de capital internacionais e, provavelmente, aos empréstimos do BCE. Mais. Seria o colapso do Estado. O governo não teria como pagar salários e pensões. A actual austeridade é branda por comparação. Se o leitor fosse um cidadão grego manifestamente contra a austeridade não entraria em incumprimento agora. Cumpriria o necessário até atingir o saldo primário e, depois, o incumprimento. Mas isso só vai acontecer no próximo ano ou possivelmente em 2013.
Ao que tudo indica, Angela Merkel também não quer que a Grécia entre em incumprimento. Ao reconhecê-lo publicamente enfraqueceu a sua posição negocial. No entanto, é uma atitude racional. A Alemanha seria um dos grandes perdedores. O colapso da zona euro fragilizaria a sua economia. O mundo inteiro culparia a chanceler e esta ficaria para a História como a alemã de Leste que afundou a UE.
Infelizmente, o novo pacote de ajuda não é o mais adequado. Primeiro porque parte de um pressuposto demasiado optimista em relação à escala da participação do sector privado. Segundo porque é irresponsável pôr de lado um valor para as receitas das privatizações no próprio pacote financeiro. Usá-las para reduzir a dívida seria mais credível. Antevejo a necessidade de um terceiro pacote no próximo ano, mas seria melhor negociar um a toda a prova até 2014 que não deixasse margem para dúvidas.
Se Merkel estivesse verdadeiramente interessada em acabar com a crise grega, como prometeu, teria de capitular em diversas frentes. Se anunciasse o perdão parcial da dívida, a criação de ‘eurobonds' e de uma pequena união orçamental, aí sim, poria fim à crise. Ainda não chegámos lá, mas a lição a retirar da semana passada é que caminhamos nessa direcção.
Tradução de Ana Pina
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