Nos últimos tempos, muito se tem falado da crise e dos acordos com a dita troika
Nos últimos tempos, muito se tem falado da crise e dos acordos com a dita troika, com enfoque para as potenciais consequências do acordo estabelecido que terá impacto em praticamente todas as áreas da Economia nacional. Contudo, o mais importante - a forma como se deve sair da crise - tem sido pouco abordada.
Em termos simples, a crise de endividamento externo resultou, como praticamente todos os comentadores têm referido, de um facto muito simples e de fácil compreensão: passámos décadas a viver acima das nossas possibilidades, consumindo mais do que produzimos, situação que apenas tem sido possível através da obtenção de empréstimos em condições cada vez mais desfavoráveis.
Dito de uma forma simplista, temos um saldo muito desequilibrado da balança comercial, que não é compensado por fluxos, outrora frequentes, como é o caso das remessas de emigrantes ou o recebimento de fundos estruturais europeus, tornando inevitável défices crónicos da balança de transacções correntes. Por último, o agravamento do desequilíbrio da balança comercial foi o resultado:
- do agravamento da deterioração dos termos de troca: no século XVIII, com o tratado de Methuen, passámos a trocar vinho do Porto por têxteis britânicos manufacturados, com maior valor acrescentado; no século XXI vendemos sobretudo produtos tradicionais, sem marca própria (nomeadamente têxteis) sujeitos a enorme pressão de preços de países com salários muito mais baixos e continuamos a não integrar os canais de distribuição nos mercados internacionais. Em contrapartida, compramos produtos sofisticados e tradicionais, parte deles com marca de origem de países mais desenvolvidos;
- da transformação de Portugal num país de sector terciário: com excepção do Turismo, pouco contribui para entrada de receitas, com a agravante de o sector terciário - habitualmente muito menos dependente da concorrência exterior - ter atraído com melhores salários e condições de trabalho os melhores quadros e trabalhadores, que naturalmente fazem falta aos sectores que poderiam contribuir para as exportações.
Assim, não é de estranhar, quando se analisa o perfil das empresas exportadoras, não encontramos os principais grupos e as grandes empresas, mas sobretudo PME ou empresas estrangeiras, como é o caso da Auto Europa.
Ao cair na dura realidade, o País, ao contrário da maioria da dita "classe política", parece que começa a acordar e a virar-se para medidas práticas que possam realmente contribuir para alterar o(s) nosso(s) défice(s).
Mais ou menos espontâneas, disseminam-se as campanhas promotoras do "Comprar Português" em canais que vão desde os despretensiosos e-mail de autoria de cidadãos anónimos, até iniciativas de órgãos de comunicação social.
A imagem da agricultura e do trabalho agrícola estão a começar a mudar, como ainda me referia esta semana uma investigadora ligada ao assunto, a partir de um trabalho anual de pesquisa realizado anualmente na 1ª quinzena de Junho.
Iniciativas como a do Continente, que transformou a Avenida da Liberdade numa "quinta de produtos nacionais" surgem numa época em que a agricultura nacional começa já a ser vista com outros olhos pela população.
Paralelamente, apoiadas por diversos bancos, que já perceberam que o apoio à criação de novos projectos empresariais faz parte da sua responsabilidade social e do desenvolvimento a longo prazo, as iniciativas de empreendedorismo têm vindo a crescer.
Outro bom sinal é que, não obstante as dificuldades já sentidas e aquelas que se adivinham no curto e médio-prazo, os portugueses evidenciam uma crescente solidariedade social, de que é exemplo a recente campanha do Banco Alimentar contra a Fome, que apresentou melhores resultados do que em anos transactos.
O novo Governo começou por, também, simbolizar uma postura de não esbanjamento. Muito contestada por alguns que insistem em não vislumbrar o simbolismo de viajar em classe económica, ao acto deve ser visto como o início de uma nova atitude face ao despesismo e ao aproveitamento do situacionismo.
Em síntese, todos estes sinais são importantes para criar uma vaga de fundo de mudança de mentalidades; inspirando-me em Rudyard Kipling diria que:
- se existir uma forte liderança política, que dê o exemplo;
- se os empresários e quadros portugueses passarem a olhar para o mundo como os portugueses o viram na segunda metade do sec. XV - "é para ser descoberto";
- se existir uma maior valorização do que é português;
- se, de uma forma geral, desde o empresário ao desempregado, os portugueses se convencerem que não podem ficar à espera do apoio ou do subsídio, mas que têm de ser responsáveis pelo seu destino, lutando para encontrar as melhores soluções;
- se for desbloqueada a área da Justiça que tem minado os valores da sociedade portuguesa;
- se houver um maior rigor e exigência em face da massificação de educação.
Então, seguramente Portugal sairá da crise bem mais forte do que quando nela entrou!
Em termos simples, a crise de endividamento externo resultou, como praticamente todos os comentadores têm referido, de um facto muito simples e de fácil compreensão: passámos décadas a viver acima das nossas possibilidades, consumindo mais do que produzimos, situação que apenas tem sido possível através da obtenção de empréstimos em condições cada vez mais desfavoráveis.
Dito de uma forma simplista, temos um saldo muito desequilibrado da balança comercial, que não é compensado por fluxos, outrora frequentes, como é o caso das remessas de emigrantes ou o recebimento de fundos estruturais europeus, tornando inevitável défices crónicos da balança de transacções correntes. Por último, o agravamento do desequilíbrio da balança comercial foi o resultado:
- do agravamento da deterioração dos termos de troca: no século XVIII, com o tratado de Methuen, passámos a trocar vinho do Porto por têxteis britânicos manufacturados, com maior valor acrescentado; no século XXI vendemos sobretudo produtos tradicionais, sem marca própria (nomeadamente têxteis) sujeitos a enorme pressão de preços de países com salários muito mais baixos e continuamos a não integrar os canais de distribuição nos mercados internacionais. Em contrapartida, compramos produtos sofisticados e tradicionais, parte deles com marca de origem de países mais desenvolvidos;
- da transformação de Portugal num país de sector terciário: com excepção do Turismo, pouco contribui para entrada de receitas, com a agravante de o sector terciário - habitualmente muito menos dependente da concorrência exterior - ter atraído com melhores salários e condições de trabalho os melhores quadros e trabalhadores, que naturalmente fazem falta aos sectores que poderiam contribuir para as exportações.
Assim, não é de estranhar, quando se analisa o perfil das empresas exportadoras, não encontramos os principais grupos e as grandes empresas, mas sobretudo PME ou empresas estrangeiras, como é o caso da Auto Europa.
Ao cair na dura realidade, o País, ao contrário da maioria da dita "classe política", parece que começa a acordar e a virar-se para medidas práticas que possam realmente contribuir para alterar o(s) nosso(s) défice(s).
Mais ou menos espontâneas, disseminam-se as campanhas promotoras do "Comprar Português" em canais que vão desde os despretensiosos e-mail de autoria de cidadãos anónimos, até iniciativas de órgãos de comunicação social.
A imagem da agricultura e do trabalho agrícola estão a começar a mudar, como ainda me referia esta semana uma investigadora ligada ao assunto, a partir de um trabalho anual de pesquisa realizado anualmente na 1ª quinzena de Junho.
Iniciativas como a do Continente, que transformou a Avenida da Liberdade numa "quinta de produtos nacionais" surgem numa época em que a agricultura nacional começa já a ser vista com outros olhos pela população.
Paralelamente, apoiadas por diversos bancos, que já perceberam que o apoio à criação de novos projectos empresariais faz parte da sua responsabilidade social e do desenvolvimento a longo prazo, as iniciativas de empreendedorismo têm vindo a crescer.
Outro bom sinal é que, não obstante as dificuldades já sentidas e aquelas que se adivinham no curto e médio-prazo, os portugueses evidenciam uma crescente solidariedade social, de que é exemplo a recente campanha do Banco Alimentar contra a Fome, que apresentou melhores resultados do que em anos transactos.
O novo Governo começou por, também, simbolizar uma postura de não esbanjamento. Muito contestada por alguns que insistem em não vislumbrar o simbolismo de viajar em classe económica, ao acto deve ser visto como o início de uma nova atitude face ao despesismo e ao aproveitamento do situacionismo.
Em síntese, todos estes sinais são importantes para criar uma vaga de fundo de mudança de mentalidades; inspirando-me em Rudyard Kipling diria que:
- se existir uma forte liderança política, que dê o exemplo;
- se os empresários e quadros portugueses passarem a olhar para o mundo como os portugueses o viram na segunda metade do sec. XV - "é para ser descoberto";
- se existir uma maior valorização do que é português;
- se, de uma forma geral, desde o empresário ao desempregado, os portugueses se convencerem que não podem ficar à espera do apoio ou do subsídio, mas que têm de ser responsáveis pelo seu destino, lutando para encontrar as melhores soluções;
- se for desbloqueada a área da Justiça que tem minado os valores da sociedade portuguesa;
- se houver um maior rigor e exigência em face da massificação de educação.
Então, seguramente Portugal sairá da crise bem mais forte do que quando nela entrou!
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