Vítor Rainho
A Itália acaba de dizer não ao nuclear. Os alemães confrontam-se com as quintas biológicas. O mundo não está perdido, mas está confuso
A semana que agora termina ficará na história dos ecologistas por duas razões bem distintas. Em Itália, o primeiro-ministro foi derrotado em toda a linha no que à construção de centrais nucleares diz respeito. Berlusconi viu o seu povo rejeitar o nuclear e no futuro o país irá apostar em energias renováveis.
Ao resultado do referendo não será, obviamente, estranho o acidente com a central nuclear japonesa de Fukushima aquando do terramoto e consequente tsunami no Japão. Em 1986 o acidente com a central de Chernobyl, escondido durante largas horas pelos responsáveis da república da antiga União Soviética, não chegou aos olhos do mundo, apesar de o número de mortos directos não ter sido muito elevado. Segundo algumas estimativas, terão falecido cerca de 60 pessoas, embora nos anos seguintes se calcule que mais de quatro mil tenham perecido devido à contaminação a que foram sujeitas.
Se a antiga União Soviética conseguia esconder do mundo os dados mais assustadores, os governantes dos países vizinhos sabiam muito bem o grau de perigosidade a que ficaram expostos.
Mas o acidente de Chernobyl pouco ou nada interferiu na política nuclear dos países da Europa Central. A população não tinha muitos dados e os governantes continuavam a apostar na energia mais barata e rentável para os respectivos países. Com o acidente, este ano, da central japonesa tudo se alterou porque foi impossível esconder das grandes massas os perigos de um acidente nuclear.
Embora não se saiba bem a gravidade do mesmo, não é difícil calcular o que teria acontecido se o reactor não tivesse sido ‘congelado’. Digamos que a informação divulgada alterou o pensamento de muitos europeus. A Alemanha já anunciou que até meados dos anos 20 terá desactivado todas as centrais, a Suíça também prometeu seguir o mesmo caminho e agora foi a vez da Itália. O nuclear está em perigo na Europa, mas haverá muitos outros países que dificilmente abandonarão esta forma de energia. Na Europa será curioso saber o que se irá passar em França, já que depende energeticamente muito do nuclear.
A outra notícia que ficará na memória dos ecologistas, e não só, é a das mortes que terão tido origem em produtos agrícolas produzidos numa quinta biológica na Alemanha. Numa atitude inédita, penso, os governantes germânicos começaram por culpar os pepinos espanhóis, contribuindo para a perda de milhões de euros dos agricultores do país vizinho. Até que, depois de muitas análises, chegaram à conclusão de que o mal estava numa quinta nos arredores de Hamburgo. E agora? Os vegetarianos vão voltar a comer hambúrgueres de carne e afins? Depois das vacas loucas, das gripes das aves e das pestes suínas, só faltava os legumes ficarem sob suspeita.
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