quinta-feira, junho 23

O melhor amigo

João Adelino Faria


Nem o Presidente da República lhe escapa! Nos últimos tempos quando é feito qualquer comunicado importante de um político, ele é quase sempre anunciado primeiro no Facebook e só depois transmitido publicamente. Mas porquê?
A situação é tão caricata que as televisões, os jornais e as rádios já não citam pessoas, citam a página do Facebook de alguém!
Mas será que ninguém acha estranho numa redacção que, quando se telefona a perguntar sobre uma informação vital para o país, nos respondam para ir primeiro à página do Facebook? Para além disso ainda temos de nos registar como amigos!
Parece que de repente tudo e todos ficaram contagiados por uma prática que, para além de absurda, não tem na realidade qualquer efeito diferente de uma simples declaração pelos meios habituais. O grave é que sempre que o nosso Presidente, o nosso primeiro-ministro, o líder do CDS ou um candidato a líder do PS escolhem esta página para falar primeiro, estão a fazer publicidade a uma marca e a ajudar o já multimilionário Mark Zuckerberg a ficar ainda mais rico. A oferta pública desta empresa nos próximos dias pode chegar aos 70 mil milhões de euros e atingir rapidamente o topo das maiores tecnológicas do mundo!
É óbvio que as redes sociais servem cada vez mais como forma privilegiada para divulgação de mensagens importantes. Mas o que é estranho é que este seja o meio escolhido pela maioria dos nossos políticos para fazer anúncios oficiais. Escrever primeiro no Facebook e só depois chamar as televisões e os jornais não é seguramente um sinal de modernidade. É obrigar todos os jornalistas a fazer publicidade gratuita ao Facebook. Quantas vezes já escrevi eu este nome na crónica?
Porque não utilizam eles outras redes sociais que existem e que necessitam desesperadamente ser reconhecidas e publicitadas? Porque não defender a nossa economia e ter os nossos mais altos dirigentes a utilizar, já agora, uma rede social portuguesa? Isso sim seria de aplaudir e de louvar!
Em França o Conselho Superior Audiovisual proibiu os jornalistas de fazer referência ao Facebook e ao Twitter, quando reproduzem declarações, invocando que é publicidade ilegal. Não digo que esse seja o caminho em Portugal mas talvez seja altura de os nosso dirigentes se interrogarem antes de falarem primeiro para o Facebook e só depois para os media.
E, já agora, alguém se lembrou de verificar se com esta moda não estamos todos também a violar a lei portuguesa?
Jornalista da RTP

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