sábado, junho 11

O PS e a síndrome do eucalipto

Camilo Lourenço

É um problema recorrente dos partidos. Quando um líder forte abandona o poder, é o cabo dos trabalhos para encontrar dirigentes novos, que se consigam afirmar.
Foi assim depois de Sá Carneiro, foi assim depois de Mário Soares e foi assim depois de Cavaco. Com a saída de Sócrates vai o PS passar pela mesma travessia do deserto? Vejamos: para o lugar de Sócrates perfilam-se António Costa, António José Seguro e Francisco Assis. O terceiro Costa, o Vitorino, está (por vontade própria) de fora. 

António Costa, depois de uma pequena reflexão, disse não estar interessado porque a Câmara de Lisboa exige dedicação exclusiva, não acumulável com as funções de secretário-geral. A sua reflexão foi uma encenação: Costa não queria, agora, o lugar. Se quisesse, deixaria a Câmara…Não o faz porque está preocupado com duas coisas: a primeira é que a liderança de Sócrates "torrou" de tal maneira a reputação do PS (veja-se os 28% de votos) que, mesmo um líder novo pode não conseguir galvanizar o eleitorado nos próximos anos. A segunda é que Costa prefere que outro (Assis ou Seguro) faça a travessia do deserto, enquanto o PSD se "queima" a aplicar um memorandum que, mais tarde ou mais cedo, vai provocar uma grande perda de votos. Neste cenário, António Costa surgiria mais tarde, num momento bem mais apetecível: governar depois de o PSD ter feito a "limpeza" da economia e depois de o "regente", Seguro ou Assis (ou os dois, à vez) ser afastado. A questão é saber se os "regentes" serão mesmo… regentes… ou se conseguirão fugir ao destino dos líderes que se seguem às presidências fortes (aqueles que secam tudo à sua volta). Mas isso fica para outra análise.

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