Camilo Lourenço
Não sei com que espírito Passos Coelho encarou as negociações com Paulo Portas para a formação do Governo.
Mas se em algum momento pensou que podia confiar (vá lá, a 90%) nele, já deve ter mudado de ideias.
Portas tem um objectivo: fazer do CDS uma alternativa ao PSD, para chegar um dia a 1º ministro (como, numa escorregadela, deixou escapar na campanha eleitoral). E bate-se obstinadamente por ele. Mas tem um problema: o mau resultado das legislativas, consequência do voto útil no PSD (a "maldição" do CDS, que no passado complicou a vida a Freitas do Amaral e Lucas Pires…), que lhe retirou espaço para reivindicar pastas com que sonhava, como Economia e Administração Interna. Daí a necessidade de afirmação. Como se viu quando não apoiouFernando Nobre (má escolha de Coelho). No final, Portas diria mesmo que a sua preocupação primeira é… o seu eleitorado. Numa evidente marcação de terreno. Este mini-desentendimento pode vir a ter mais importância do que parece: confirma que os dois partidos não estão casados por amor, mas por interesses conjunturalmente coincidentes (veja-se as declarações que o "Público" colheu de deputados do PSD, no final da votação…). Razão suficiente para Passos Coelho estar atento às jogadas de Portas. Desde logo à "marcação" que vai fazer a Miguel Macedo na Administração Interna, uma pasta madrasta. Resta saber se as energias gastas neste braço-de-ferro permanente não vão afectar a qualidade da governação.P.S. - E se algum dos ministros "não entregar"? Se for do PSD, será fácil substituí-lo. Mas se for do CDS? Vai Passos mantê-lo, para não hostilizar o parceiro?
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