sexta-feira, junho 10

A política mais foleira


Manuel Tavares

Ana Gomes acha que Paulo Portas não tem condições para ser ministro e a pergunta que tal opinião sugere é esta: mas que tem o PS a ver com o próximo Governo que há-de ser coisa a tratar entre o PSD e o CDS ou estará Ana Gomes muito convenientemente a falar do alto da sua ciência política?
Pois, nem uma coisa nem outra: Ana Gomes pensa pura e simplesmente que Paulo Portas não deve ser ministro por lhe palpitar que o presidente do CDS não terá os comportamentos sociais mais recomendáveis.
José Sócrates foi vítima de idênticos abusos de opinião e passou boa parte da sua governação sujeito a essas imoralidades, de quem não se basta com a ética republicana. Ou seja: a lei.
Na política portuguesa, a confusão entre ética e moral - e ainda estética - tem gerado as maiores perversões, que alimentam muita da intriga palaciana de que vive Lisboa e já acabou com as carreiras políticas de muito boa gente.
Os termos em que Ana Gomes colocou esta sua espécie de objecção de consciência são intragáveis do ponto de vista das relações humanas e em particular da pedra filosofal da vida em liberdade: poder escolher em todas as opções da esfera pessoal desde que não limitemos a liberdade do outro.
Num país como o nosso, ataques a adversários partidários com base em apreciações comportamentais presumidas e que não relevam para a boa ou má administração dos bens públicos são ainda mais indecentes. Porque sendo nós tão poucos e tão vizinhos, dificilmente alguém escapará à interpelação de Jesus sobre a mulher adúltera que fariseus e escribas lhe trouxeram à presença para ser apedrejada.
Segundo reza esse capítulo 8.º do Evangelho de João, Jesus ergueu-se e lançou um desafio aos presentes: aquele que nunca pecou lance a primeira pedra. Um a um, todos abandonaram o monte das Oliveiras com o rabinho entre as pernas e então Jesus disse à mulher: uma vez que ninguém te condenou, não serei eu a fazê-lo.
É espantoso que alguém como Ana Gomes, que viveu a luta dos timorenses (muita dela baseada na fé dos Envangelho) esteja tão perdida nos labirintos mais foleiros da política.

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