sexta-feira, junho 10

O meu Portugal de todos os dias

Ferreira Fernandes

Portugal há muitos. Tantos povos de passagem e desde sempre, e tanto gosto pelo mar, mal seria se fosse único. Vou falar do meu Portugal. Há dias, em reportagem, estive num canto de Portugal, marginalizado por ser canto escondido. Assisti lá a discussões destas: o sendinês (Sendim fica a 30 km de Miranda do Douro) é uma língua própria ou uma variante do mirandês? Confesso, não é a minha praia. Comovi-me foi com a tanoaria vizinha. Só as mãos e o saber eram transmontanos, a matéria-prima para as aduelas vinha de longe, carvalho francês, e o produto, as barricas (modernas, trabalhadas a laser), iam para mais longe, Napa Valley, Califórnia. Ser canto e juntar lugares longínquos derrete-me. Um dia, na ilha de Maui, Havai, velhinhas cantaram-me modinhas portuguesas e, no fim, perguntaram o que queria dizer "destino". Já tinham esquecido o português dos seus avós (açorianos, madeirenses e cabo-verdianos, embora todas elas ao cantar guardassem a pronúncia mais forte, a micaelense), elas eram americanas e eram do meu Portugal. É este saudosista? Pelo contrário, é virado para frente, como cabe a quem andou tanto. Por estes dias fala-se de uma derrota de Portugal por perder importância na OTAN. Para outros seria grave, não têm alternativa. Mas nós, porque não pensar na OTAS? Na Organização do Tratado do Atlântico Sul? Este mar tem São Tomé e Cabo Verde a norte, Angola a leste e o Brasil a oeste. Repararam no que os une?

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