sexta-feira, junho 17

Quando é que a economia chinesa vai superar a norte-americana?

Yao Yang

A China está prestes a superar os Estados Unidos e tornar-se na maior economia mundial?
O Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipou, recentemente, que a dimensão da economia chinesa, em paridade de poder de compra, deverá superar a dos Estados Unidos em 2016.

Mas um estudo recente, da co-autoria de Robert Feenstra, economista da Universidade de Chicago, mostra que a China deverá assumir a liderança da economia mundial em 2014. Ainda mais radical, Arvind Subramanian do Peterson Institute of International Economics, afirma que a China já superou os Estados Unidos, em paridade de poder de compra, desde 2010.A paridade do poder de compra (PPP, sigla original) mede o rendimento de um país usando um conjunto de preços internacionais aplicados a todas as economias. Os preços nos países em desenvolvimento são, normalmente, mais baixos do que os preços nos países desenvolvidos. Além disso, o seu rendimento poderá ser subestimado se for calculado apenas de acordo com a taxa de câmbio. O rendimento medido em PPP ajuda a evitar este problema.Mas calcular o rendimento através da PPP também levanta diversos problemas. Um deles consiste no facto de cada país ter um cabaz de consumo diferente, com as maiores disparidades entre os países em desenvolvimento e desenvolvidos. Por exemplo, a alimentação representa, normalmente, 40% ou mais das famílias dos países desenvolvidos, enquanto nos países em desenvolvimento esta percentagem cai para 20%.O objectivo da comparação da PPP é medir a qualidade de vida real de um país. Neste caso, pode ser visto como uma comparação do produto agregado de cada país, composta pelos bens do cabaz de consumo de cada país. Mas este produto agregado tem bens diferentes de país para país. Ou seja, os cálculos do PPP, na verdade, comparam maçãs com laranjas.Este argumento pode parecer demasiado técnico mas tem profundas implicações na comparação da qualidade de vida entre países. Comparemos dois países. Um deles agrícola, onde as pessoas compram apenas bens alimentares. E outro industrial, onde as pessoas consomem alimentos e roupas. A percentagem dos seus gastos nestes dois bens é, respectivamente, 20% e 80%.Imaginemos ainda que o rendimento nominal per capita à taxa de câmbio do mercado no segundo país é quatro vezes mais elevado do que no segundo. Os preços dos alimentos são iguais nos dois países, enquanto no segundo país, o preço das roupas é cinco vezes mais alto do que o preço dos alimentos.Neste caso, o preço do produto agregado no segundo país é 4,2 vezes o preço do produto agregado do primeiro. Outros cálculos revelam que, em termos de PPP, uma pessoa no segundo país é 5% mais pobre do que uma pessoa no primeiro!Este resultado absurdo só é possível porque a PPP compara dois conjuntos de consumo diferentes. Mas o cabaz de consumo de um chinês médio é muito diferente do cabaz de consumo de um norte-americano médio. Assim, as comparações de PPP entre a China e os Estados Unidos podem ser enganadoras.A PPP dá resposta à seguinte questão: quanto precisa um chinês de ganhar para manter a qualidade de vida que tem na China quando se muda para os Estados Unidos?Mas esta questão não é intuitiva nem realista. Quando se trata de comparar o poder de compra no mercado internacional, há uma pergunta mais sensata: quantos bens consegue um cidadão chinês comprar nos Estados Unidos com o rendimento que ganha na China? Para responder a esta questão devemos usar o rendimento nominal. Neste caso, uma apreciação de 10% do renminbi aumenta o poder de compra de um cidadão chinês nos Estados Unidos em 10%, apesar da sua qualidade de vida não se alterar em termos de PPP.A China superará os Estados Unidos dentro de pouco tempo mesmo que a medição das duas economias seja feita em termos nominais. Assumindo que as duas economias vão crescer, respectivamente, 8% e 3% em termos reais, que a taxa de inflação chinesa é 3,6% e a norte-americana é 2% (médias da última década) e que o renminbi aprecia face ao dólar 3% ao ano (média dos últimos seis anos), a China poderá ser a maior economia do mundo em 2021. Nessa altura, o PIB dos dois países será 24 biliões de dólares, o triplo da dimensão da terceira maior economia – Japão ou Alemanha.Um crescimento de 8% da economia chinesa pode, ou não, ser uma aposta segura. Mas se a China crescer entre 9% e 10% nos primeiros cinco anos e entre 6% e 7% nos cinco anos seguintes, será atingido um objectivo médio de 8% até 2021.O mundo já começou a exigir à China que assuma uma maior responsabilidade na saúde da economia mundial. À medida que a economia chinesa continua a crescer e, eventualmente, alcance o PIB norte-americano, esta exigência vai aumentar. Tendo em conta as estimativas recentes, a China tem pouco tempo para se preparar. 

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