segunda-feira, junho 20

Que fazia Belmiro a céu aberto?

Ferreira Fernandes


Cidade semimorta ao sábado, Lisboa parecia anteontem, no meio da Avenida da Liberdade, aquela colmeia transparente onde se viam abelhas a produzir mel. Era a primeira colmeia ao vivo para muitos lisboetas, como foi para muitos alfacinhas a oportunidade de verem a sua primeira alface ainda com terra no talo e fora do prato da salada. Daí a satisfação geral na cara de milhares, desmentindo as queixas. Parece que perturbou o trânsito - sim, como as marchas, manifestações e provas ciclistas habituais que têm merecido menos protestos. As estátuas de Alexandre Herculano e Almeida Garrett permaneceram impávidas mas Cesário Verde, infelizmente desterrado junto à Estefânia, gostaria de ter visto o campo descer à cidade. Mostrou-nos pepinos mais as suas folhas de limbo cordado e flores amareladas, quando já pensávamos que eles eram só títulos inquietantes em jornais. Deu-nos burros a montar, não, eles ainda não são só memória, deu-nos recos a ouvir, olha, costeletas falantes. Passeei-me por lá com gosto e ainda com sorriso para duas ironias. Uma semana depois, o povo fez o contrário do apelo de Cavaco Silva a 10 de Junho: afinal, foram os camponeses do interior que vieram para a capital... E, no meio de uma iniciativa paga por Belmiro de Azevedo que nos encafuou em centros comerciais, sorri por ver a minha cidade devolvida à rua, ao comércio de céu aberto, à vida que deveria ser usual num país de sol.

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