O vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) entrou numa nova fase da sua carreira política
O vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) entrou numa nova fase da sua carreira política: celebrou efusivamente ao "Público" os 100 mil euros que a CML terá ganho (ou poupado) com o "Mega Pic-Nic" que no passado fim-de-semana pôs o Marquês de Pombal em polvorosa. Disse José Sá Fernandes sobre a "mecenática" cadeia de hipermercados Continente, do Grupo Sonae, que esta "além de promover uma festa gratuita que custou [à marca] milhões de euros, arranjou todos os espaços verdes e financiou a reparação de um terreno hortícola em Campolide". Já o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa disse que "graças a esta iniciativa" estava "a usar os media para transmitir duas mensagens fundamentais - apostar na produção nacional e na sustentabilidade da cidade"; António Costa não entrou numa nova fase da sua carreira política.
É irresistível perguntar se a algum dos cavalheiros por acaso terá ocorrido responsabilizarem-se pela nossa qualidade de vida com o poder que nós lhes conferimos pelo voto e impostos, ou se andam nisto para "usar os media"; é que me parece muito melhor para a agricultura e produção nacionais que eu, cidadão, possa desfrutar dos espaços verdes da cidade para além daqueles que o Grupo Sonae considera estarem à altura do seu genial marketing, e que o faça com mais uns euros no bolso que me sobrem de, por exemplo, soluções para habitação e transporte sustentáveis, realmente pensadas para os habitantes. Se a CML não tem 100 mil euros para investir nos espaços públicos, para que serve uma Vereação do Ambiente?
Está a chegar o Verão e com ele o descalabro disfarçado de "silly season"; as praias e as urbes serão transformadas num espectáculo feérico à altura da periférica imaginação de autarcas que ainda não perceberam que são eles os tristes, os mais tristes, às vezes os únicos tristes, e que nós não precisamos de ser "animados". Durante alguns meses, as Cidades e as Paisagens promoverão marcas e serviços ao preço da uva mijona, enquanto desesperadamente os nossos líderes darão a volta ao texto para nos convencerem do contrário, das benesses do plástico insuflável e das cabras a pastar no Parque Eduardo VII, ali mesmo, por cima do Túnel do Marquês; mais para o interior, em Mangualde, a morte por homicídio premeditado do tecido produtivo agrícola nacional já "largou" os terrenos, para que agora se possa apostar no "desenvolvimento local". Como? Com uma praia, sim, uma praia artificial que, porque estamos no Portugal das Autarquias, não poderia deixar de ser "das-maiores-de-qualquer-coisa-que-o-guiness-há-de-certificar". Há praia em Mangualde, e cuidado que se Santana Lopes torna à Figueira da Foz, ainda teremos vinhedo no areal, para "impulsionar" a região e "promover" mais um "oásis", a caminho da promissão de transformar o jardim à beira-mar plantado, na "Califórnia da Europa".
"Telescópio de Bolso" vai para férias, bem necessitadas para purgar a ironia, antes que ela se transforme em cinismo. No iCoiso levo, entre muitos, Sérgio Godinho e a história do valente Casimiro contada em "Cuidado Com As Imitações": "Lá na aldeia havia um homem que mandava toda a gente, um por um, pôr-se na bicha; e votar nele, se votassem, lá lhes dava um bacalhau, um pão-de-ló, uma salsicha. (...) Mas o Casimiro era fino do ouvido, tinha as orelhas equipadas com radar: ouvia o tipo muito sério e comedido, mas lá por dentro com o rabinho a dar, a dar (...) Punha o ouvido atento, via as coisas por dentro, que é uma maneira de melhor pensar; via o que estava mal e, como é natural, tentava sempre não se deixar levar. E dizia ele, com os seus botões: cuidado Casimiro, cuidado minha gente, cuidado, justamente, com as imitações".
O álbum chama-se "Campolide", a tal freguesia alfacinha dos terrenos hortícolas que nos hão-de matar a fome. Voltamos a 15 de Julho.
É irresistível perguntar se a algum dos cavalheiros por acaso terá ocorrido responsabilizarem-se pela nossa qualidade de vida com o poder que nós lhes conferimos pelo voto e impostos, ou se andam nisto para "usar os media"; é que me parece muito melhor para a agricultura e produção nacionais que eu, cidadão, possa desfrutar dos espaços verdes da cidade para além daqueles que o Grupo Sonae considera estarem à altura do seu genial marketing, e que o faça com mais uns euros no bolso que me sobrem de, por exemplo, soluções para habitação e transporte sustentáveis, realmente pensadas para os habitantes. Se a CML não tem 100 mil euros para investir nos espaços públicos, para que serve uma Vereação do Ambiente?
Está a chegar o Verão e com ele o descalabro disfarçado de "silly season"; as praias e as urbes serão transformadas num espectáculo feérico à altura da periférica imaginação de autarcas que ainda não perceberam que são eles os tristes, os mais tristes, às vezes os únicos tristes, e que nós não precisamos de ser "animados". Durante alguns meses, as Cidades e as Paisagens promoverão marcas e serviços ao preço da uva mijona, enquanto desesperadamente os nossos líderes darão a volta ao texto para nos convencerem do contrário, das benesses do plástico insuflável e das cabras a pastar no Parque Eduardo VII, ali mesmo, por cima do Túnel do Marquês; mais para o interior, em Mangualde, a morte por homicídio premeditado do tecido produtivo agrícola nacional já "largou" os terrenos, para que agora se possa apostar no "desenvolvimento local". Como? Com uma praia, sim, uma praia artificial que, porque estamos no Portugal das Autarquias, não poderia deixar de ser "das-maiores-de-qualquer-coisa-que-o-guiness-há-de-certificar". Há praia em Mangualde, e cuidado que se Santana Lopes torna à Figueira da Foz, ainda teremos vinhedo no areal, para "impulsionar" a região e "promover" mais um "oásis", a caminho da promissão de transformar o jardim à beira-mar plantado, na "Califórnia da Europa".
"Telescópio de Bolso" vai para férias, bem necessitadas para purgar a ironia, antes que ela se transforme em cinismo. No iCoiso levo, entre muitos, Sérgio Godinho e a história do valente Casimiro contada em "Cuidado Com As Imitações": "Lá na aldeia havia um homem que mandava toda a gente, um por um, pôr-se na bicha; e votar nele, se votassem, lá lhes dava um bacalhau, um pão-de-ló, uma salsicha. (...) Mas o Casimiro era fino do ouvido, tinha as orelhas equipadas com radar: ouvia o tipo muito sério e comedido, mas lá por dentro com o rabinho a dar, a dar (...) Punha o ouvido atento, via as coisas por dentro, que é uma maneira de melhor pensar; via o que estava mal e, como é natural, tentava sempre não se deixar levar. E dizia ele, com os seus botões: cuidado Casimiro, cuidado minha gente, cuidado, justamente, com as imitações".
O álbum chama-se "Campolide", a tal freguesia alfacinha dos terrenos hortícolas que nos hão-de matar a fome. Voltamos a 15 de Julho.
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