O dr. Fernando Nobre submeteu-se, e foi submetido, a uma humilhação sem nome.
Os deputados não o admitiram como Presidente da Assembleia; Passos Coelho insistiu, com uma obstinação pelo menos surpreendente; e o próprio Fernando Nobre aceitou uma segunda volta vexatória. Não sei quem saiu vencedor desta peleja tão absurda quanto vergonhosa. Passos deveria ter recuado; Nobre não deveria ter aceitado; e o PSD não seguiu as ordens do seu presidente. Por outro lado, a "coligação" quebrou a sua aparente harmonia. O facto de Nobre ter sido escorraçado era previsível e, até, extremamente ponderável. Este estranho braço-de-ferro ainda lança opróbrio maior ao fundador da AMI.
Não gosto de escrever estas palavras. Simpatizo pessoalmente com Fernando Nobre, embora as suas escolhas me tivessem espantado e deixado um pouco indignado, pelo alto estofo ético que atribuía ao nomeado. Almocei com ele uma vez, a seu convite, e associei o combate em que militava com muitos dos combates da minha geração. Motivo mais do que suficiente para o apreciar e estimar. O humanismo sorridente e o ar bondoso do seu olhar cativaram-me. Escrevi umas frases simpáticas. Mantenho-as. Embora não encontre, ainda hoje, resposta para as dúvidas e perplexidades que me assaltaram, quando da sua adesão formal ao PSD.
Porquê? O programa do PSD contraria tudo o que o dr. Nobre tem defendido. Ainda me recordo da sua indignação veemente, quando, num programa de Mário Crespo, se insurgiu contra o sistema de saúde nos Estados Unidos. Um documentário fora exibido sobre um grupo de médicos americanos que, sem nada em troca, se haviam juntado para auxiliar quem deles precisasse. E um homem testemunhava o seu drama: percorrera mais de 400 quilómetros para ser assistido por um desses médicos, porque não tinha dinheiro para tratar de um dente, que o atormentava com dores.
"É isto que eu não quero para o meu país!" exclamou Fernando Nobre, quase colérico. A indignação de Nobre era a minha indignação, e mais se acentuou a consideração e estima que por ele eu nutria. "Isto" é o que Pedro Passos Coelho se propõe impor e, por decorrência, o amolgamento ou a subversão total do Serviço Nacional de Saúde. E não me venham com paliativos retóricos. Nobre era, pois, um guerreiro da mesma tribo e um homem cujas palavras estavam em conexão com as suas admiráveis acções.
Não sei o que se passou na cabeça deste homem. A verdade é que, se ganhou alguns afectos momentâneos, perdeu muitos milhares de amizades, nascidas da mesma origem que faz a solidariedade das pessoas. Não estou a fazer julgamento moral de um homem cujo passado sem mácula é um indicativo de coerência e de desprendimento. Apenas lamento. E lamento ainda mais porque muitos daqueles que seria previsível apoiarem-no, o rejeitaram por duas vergonhosas vezes.
Que vai fazer, agora, Fernando Nobre, uma vez que se malogrou o desejo de ser Presidente da Assembleia da República? E aquele que o irá substituir com que justificação aceitará o cargo, no fundo, de terceira escolha? Assisti às palmadinhas nas costas e aos beijinhos caridosos que Nobre recebeu, após o conhecimento dos resultados do segundo escrutínio. Todos estes gestos possuíam o cunho da hipocrisia deslavada, e Nobre, encolhido na sua cadeira no Parlamento, era um homem colhido entre a surpresa e o pejo.
Por outro lado, esta primeira derrota de Pedro Passos Coelho terá, necessariamente, repercussões. A obstinação do presidente do PSD enfrentou a obstinação declarada de Paulo Portas. As coisas, creio, não ficarão na mesma. Que se seguirá?
Não gosto de escrever estas palavras. Simpatizo pessoalmente com Fernando Nobre, embora as suas escolhas me tivessem espantado e deixado um pouco indignado, pelo alto estofo ético que atribuía ao nomeado. Almocei com ele uma vez, a seu convite, e associei o combate em que militava com muitos dos combates da minha geração. Motivo mais do que suficiente para o apreciar e estimar. O humanismo sorridente e o ar bondoso do seu olhar cativaram-me. Escrevi umas frases simpáticas. Mantenho-as. Embora não encontre, ainda hoje, resposta para as dúvidas e perplexidades que me assaltaram, quando da sua adesão formal ao PSD.
Porquê? O programa do PSD contraria tudo o que o dr. Nobre tem defendido. Ainda me recordo da sua indignação veemente, quando, num programa de Mário Crespo, se insurgiu contra o sistema de saúde nos Estados Unidos. Um documentário fora exibido sobre um grupo de médicos americanos que, sem nada em troca, se haviam juntado para auxiliar quem deles precisasse. E um homem testemunhava o seu drama: percorrera mais de 400 quilómetros para ser assistido por um desses médicos, porque não tinha dinheiro para tratar de um dente, que o atormentava com dores.
"É isto que eu não quero para o meu país!" exclamou Fernando Nobre, quase colérico. A indignação de Nobre era a minha indignação, e mais se acentuou a consideração e estima que por ele eu nutria. "Isto" é o que Pedro Passos Coelho se propõe impor e, por decorrência, o amolgamento ou a subversão total do Serviço Nacional de Saúde. E não me venham com paliativos retóricos. Nobre era, pois, um guerreiro da mesma tribo e um homem cujas palavras estavam em conexão com as suas admiráveis acções.
Não sei o que se passou na cabeça deste homem. A verdade é que, se ganhou alguns afectos momentâneos, perdeu muitos milhares de amizades, nascidas da mesma origem que faz a solidariedade das pessoas. Não estou a fazer julgamento moral de um homem cujo passado sem mácula é um indicativo de coerência e de desprendimento. Apenas lamento. E lamento ainda mais porque muitos daqueles que seria previsível apoiarem-no, o rejeitaram por duas vergonhosas vezes.
Que vai fazer, agora, Fernando Nobre, uma vez que se malogrou o desejo de ser Presidente da Assembleia da República? E aquele que o irá substituir com que justificação aceitará o cargo, no fundo, de terceira escolha? Assisti às palmadinhas nas costas e aos beijinhos caridosos que Nobre recebeu, após o conhecimento dos resultados do segundo escrutínio. Todos estes gestos possuíam o cunho da hipocrisia deslavada, e Nobre, encolhido na sua cadeira no Parlamento, era um homem colhido entre a surpresa e o pejo.
Por outro lado, esta primeira derrota de Pedro Passos Coelho terá, necessariamente, repercussões. A obstinação do presidente do PSD enfrentou a obstinação declarada de Paulo Portas. As coisas, creio, não ficarão na mesma. Que se seguirá?
Sem comentários:
Enviar um comentário