sexta-feira, junho 17

16 hectares e uma mula

João Quadros

Portugal entrou numa nova fase. Em pouco tempo, passámos do discurso da tanga para o apelo a gente de tanga (por muita tanga de gente).
Os apelos são vários e para todos os gostos. Temos o apelo: ao patriotismo, à frugalidade, à capacidade de trabalho, ao sacrifício, ao que é nosso e finalmente; o meu preferido; o apelo da terra. Fico com as bochechas rosadas só de ouvir o apelo da terra, falar do campo faz-me bem à saúde. 

No "último" discurso, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, exortou os portugueses a regressarem ao campo e à agricultura. A exortação faz sentido porque, neste momento, há muitos portugueses que sentem o apelo da selva; e isso não é bom. 

Vejo com bons olhos (tenho uma varanda larga) o regresso à agricultura de subsistência. Porque como, resumindo os apelos, temos de ser frugais e comer pouco mas português, a melhor opção é cultivar a minha própria comida e a do meu banco. Mas, infelizmente, temo que seja apenas mais uma etapa. Receio que, em breve, o nosso Presidente apele ao retorno à actividade de caçador-colector. E que, para além do mini-latifúndio alentejano, nos seja sugerido o retorno ao Vale do Côa. Tudo é possível. Basta pensar que o regresso à permuta (e creio que o nosso Presidente não tem nada contra) podia ser uma boa alternativa no caso de abandonarmos o Euro (ou o Euro nos abandonar). 

A recente paixão de Aníbal Cavaco Silva pela agricultura vem, mais uma vez, provar a importância das redes sociais. Cavaco apaixonou-se pela agricultura no Facebook. Se vamos assistir a uma revolução agrícola em Portugal é tudo graças ao Farmville e ao vício que se apoderou do PR. Não pode haver outra explicação. Ver Cavaco Silva, o homem de betão (o rei do asfalto), apelar aos jovens para que optem pela carreira de agricultor é como ver a Heloísa Apolónia defender as centrais atómicas, em voz baixa. Acho que tudo isto faz muito pouco sentido. 

Percebo que queiram enviar os miúdos para o campo; quantas vezes tenho vontade de mandar os meus; mas vão fazer o quê?! A plantação de cannabis é ilegal. Agricultura?! No campo?! No campo, não pode ser. Antes dos jovens, há cem mil agricultores portugueses, profissionais do ramo, que também tinham algum interesse em praticar a agricultura (e que possuem o chamado terreno) mas recebem subsídios da União Europeia para que não se atrevam a fazê-lo. Em termos de reformas agrárias, demos muitas voltas e acabámos no "a terra a quem não se atreva a trabalhar." 

Seja como for, sou muito sensível ao apelo da terra (especialmente no início da Primavera, por causa das alergias) e acho que uma revolução no sector agrícola pode ser essencial para conseguirmos sair da crise. Nunca subestimem o poder de um legume - os alemães que o digam. 


5 para entreter enquanto espera por meia-dose de governo
1.
 "Sócrates irá fazer um ano 'sabático' e vai para o estrangeiro estudar filosofia" - nãaaaaao! Outra vez os gregos! Só sei que nada sei.
2. "O Presidente da República disse esperar que os portugueses queiram ser curados" - vamos a meio caminho, já estamos coalhados.
3. Juízes apanhados a copiar passam todos com 10 valores - mas com uma repreensão por terem sido apanhados. Com 7 valores ficam os que os apanharam, mais uma multa de cem euros por desrespeito ao tribunal. Têm desculpa. A ocasião faz o ladrão, e a toga está mesmo a pedir cábulas.
4. O ex-líder do PS anunciou a saída da política portuguesa e despediu-se dos camaradas com um "adoro-vos" - Afinal, Sócrates é um animal de peluche. Consta que Assis terá respondido: "papá!" e que Seguro fez bolhinhas de cuspo com a boca.
5. Segundo o CM, Fernando Nobre foi um problema nas negociações entre PSD e CDS. Mas tornou-se um "problema contornável" …Espero que não estejam a pensar dar-lhe um tiro na cabeça. Acho que o lugar de deputado e a oferta da colecção de radiografias do Catroga, à AMI, é tudo o que Nobre leva destas eleições.

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