sexta-feira, junho 24

A esquina do Rio

Manuel Falcão
Hoje começo esta coluna a elogiar Jorge Coelho.


Elogio
Hoje começo esta coluna a elogiar Jorge Coelho. Na noite de terça-feira ele deu uma notável entrevista à RTP N na qual deixou uma série de recados importantes para dentro do PS - nomeadamente salientando que agora começa um novo ciclo, que terá novas metas e que obrigará o PS a reorganizar-se. Que diferença fazem estas palavras das ameaças veladas emitidas por Santos Silva à saída da posse do novo Governo ou, ainda, da permanente arrogância e pesporrência de Jorge Lacão, no mesmo dia, nas mesmas circunstâncias. Jorge Coelho falou do futuro e recomendou ao PS que pense no que fez e no que quer agora fazer. Tenho admiração por homens que são capazes de se retirar como Jorge Coelho se retirou, assumindo responsabilidades políticas e saindo de cena em circunstâncias tão graves como foi a queda da ponte em Entre-Os-Rios. E, quero dizê-lo (e perdoem-me os leitores o estilo confessional) tenho uma verdadeira e sincera admiração pelos homens e mulheres que aceitaram a responsabilidade de integrar este Governo nesta altura tão complicada, com um programa de acção em boa parte imposto de fora, mas que é provavelmente o estreito caminho que ainda nos pode levar a um futuro melhor. Espero que nesta legislatura se façam menos disparates, que não existam deputados a sonegar gravadores que registam perguntas incómodas de jornalistas, espero que haja responsabilidade, que haja atenção à realidade e, sobretudo, que exista menos arrogância e menos teimosia. A actividade cívica e política não pode ser entregue a um bando de carreiristas e oportunistas - é bom saber que existe quem saiu do seu conforto para tentar resolver os problemas. Eles estão num batalhão que já partiu para a frente de batalha. Têm o seu quê de guerrilheiros, têm coragem, merecem respeito e oportunidade para mostrar o que valem. Estou à vontade - não votei em quem venceu, pela primeira vez optei pelo CDS e divulguei-o em tempo oportuno. Mas espero que a solução que se encontrou permita uma governação equilibrada e sobretudo eficaz. Porque essa eficácia é a única coisa que nos permite pensar que existe uma oportunidade de vivermos, todos, num País melhor.


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Registo
Uma coisa é certa - já se percebeu que Pedro Passos Coelho é adepto de experimentar, errar, avaliar, corrigir. Não é um método impossível, em política, mas tem custos elevados e um prazo de validade relativamente curto. Começou a campanha eleitoral neste registo - com a indicação de Fernando Nobre para cabeça de lista pelo círculo de Lisboa - e começou a actividade Parlamentar arriscando - e sofrendo - uma derrota, exactamente pela persistência em manter Fernando Nobre. Algumas pessoas dizem que é sinal de carácter e de fidelidade aos compromissos. Aceito isso, mas também acho que há alguma dose de teimosia - e a teimosia em política (e noutras coisas da vida), não é boa conselheira. No entanto, convém dizer que uma grande parte da responsabilidade do mau começo parlamentar da maioria tem a ver com a falta de carácter do próprio Fernando Nobre - um facto curioso porque foi baseado no seu suposto carácter que ele terá sido escolhido. No entanto o seu percurso, na política e na forma como organizou e dirigiu a AMI, não é o melhor indicador de um bom carácter. Sei que isto poderá chocar alguns, mas é o que penso. No mínimo criou demasiadas situações dúbias. Quando ele foi candidato, felizmente derrotado, às Presidenciais, escrevi que ele fez carreira à custa de um bom aproveitamento mediático do sofrimento alheio - e mais tarde quis prolongar esse aproveitamento na política e foi aí que se perdeu. Que as duas derrotas seguidas sofridas o façam pensar e corrigir a forma como se comporta.

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Cultura
Interessam-me mais os actos do que os símbolos. Em matéria de política cultural, o que sei é que nestes últimos anos tivemos muito simbolismo mas muito pouca obra. Tivemos um Ministério que fez menos que muitas Secretarias de Estado. O Ministério da Cultura teve titulares com menos poder ou capacidade política do que muitos Directores-Gerais. Uma Secretaria de Estado da Cultura na dependência directa do Primeiro-Ministro tem maior peso político e capacidade de interlocução com as áreas com que tem de se entender (Finanças, Negócios Estrangeiros, Turismo, Educação, Economia, Audiovisual), do que um Ministério que é o último na lista das precedências do Estado. Espero que Francisco José Viegas desempenhe bem o lugar, embora não resista a uma maldade: não é preciso muito para fazer melhor que Gabriela Canavilhas. Espero que a diferença seja sensível e que, sobretudo, tenha em conta as novas áreas da criatividade e não apenas o património, edificado ou editado.

Arco da velha
Os gastos públicos ilegais quase triplicaram em 2010 face a 2009 - o Tribunal de Contas detectou quase 3 mil milhões de euros de despesa pública irregular.

Semanada
No fim-de-semana, Fernando Nobre esteve com Paulo Porta. Nesses dias terá feito contactos com pessoas próximas do PS e seus companheiros de outras lides; depois de todas estas conversas fez constar que teria possibilidades de ser eleito Presidente da Assembleia da República; dirigentes experientes do PSD acreditaram nele e vieram afirmá-lo e até Marcelo Rebelo de Sousa lhe vaticinou vitória. Segunda-feira foi a votos e tornou-se no primeiro candidato a Presidente da Assembleia da República a ser derrotado em duas votações seguidas. A sua expressão facial no momento do anúncio da segunda votação não escondeu a raiva. Resta a dúvida: enganou ou foi enganado? Eu acho apenas que foi ingénuo e que a única coisa que lhe cabia, desde o dia em que foi eleito deputado, era desvincular o líder do PSD do acordo que terão feito. Aí teria dado prova de grandeza. Persistindo na ambição, acabou humilhado. E não ajudou quem, em má hora, o escolheu para deputado. A cara que fez quando percebeu o resultado de Assunção Esteves diz tudo sobre a sua pessoa. Felizmente está registada em fotografia, publicada na imprensa.
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