Paulo Ferreira
Abizantina discussão sobre as qualidades e defeitos dos ministros escolhidos, em primeira ou segunda opção, por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas deve terminar entre hoje e amanhã. Cada um dos novos ministros já terá sido, então, escrutinado, avaliado, classificado e outras coisas afins - exercício a que, quase sem excepção, órgãos de Comunicação Social, comentadores da actualidade e reconhecidos bloguers se dedicam sempre que um novo governo é eleito.
Convém que a distracção passe depressa, porque, volvido este espasmo noticioso, temos de voltar a pôr firmemente os pés na terra. Talvez valha a pena lembrar aos mais esquecidos duas ou três verdades, para ser generoso, que teimosamente nos confrontam enquanto cidadãos de um país em francas dificuldades.
Primeira verdade: com este ou outro primeiro-ministro, com estes ou outros ministros, o acordo estabelecido com os malvados da troika amarra-nos a dois ou três anos de recessão, mais ou menos profunda. A culpa não é da troika, como se sabe.
Segunda verdade: além da recessão económica que atravessaremos e do buraco financeiro de que teremos de sair, estamos obrigados a alterar o nosso modo de vida. Vale o mesmo dizer: o nosso quotidiano não voltará a ser o que era; as nossas expectativas baixarão; as nossas decisões terão de ser muito mais racionais do ponto de vista económico.
Terceira verdade: ou aproveitamos o balanço para fazer as reformas que se impõem há muitos, muitos anos (na Saúde, na Educação, na Justiça, na Segurança Social...) ou, mais cedo do que tarde, voltaremos ao ponto onde hoje nos encontramos - um ponto de quase não retorno. Estamos fartos de bater nesta tecla? Estamos. Mas os números e as evidências não nos largam. É ver o que hoje escrevemos na página 11.
Mais de um terço (35%, para ser exacto) dos alunos do 6.º ano de escolaridade tiveram negativa na prova de aferição a Matemática. As notas são um pouco melhores nas turmas do 4.º ano. Mas a tragédia mantém-se: após longos e aturados anos de pesquisa e mais pesquisa sobre o modelo a aplicar, após longos e aturados anos a aplicar uma metodologia agora e outra dali a pouco, eis o brilhante resultado: mesmo numa prova de aferição de conhecimentos, teoricamente mais fácil do que um exame, as negativas não param de aumentar.
O novo ministro da Educação, feroz crítico do que tem sido feito no sector da Educação nos últimos anos, tem uma trabalheira pela frente. Não lhe chegará o estado de graça para compor o que há muito está errado. Nem a ele nem aos seus colegas de Governo.
Desejemos-lhes boa sorte.
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