quinta-feira, junho 23

O prestígio da AR

Manuel António Pina


Foi um "pedido" público e chegou-me, através da SIC Notícias, pela voz de Guilherme Silva, vice-presidente da AR, com quem não estou há 40 anos. Mais do que um "pedido", foi antes um apelo, dirigido não só a mim mas a mais cronistas de imprensa, no sentido de não contribuírem para o desprestígio do Parlamento.
Mas quem, em primeiro lugar, tem de fazer pelo seu prestígio é a própria AR. De facto, o descrédito da AR junto dos portugueses resulta, não dos jornais, mas, desde logo, do descrédito dos próprios partidos (sobre o qual existem estudos e sondagens q.b., designadamente a "sondagem" que os números sempre crescentes da abstenção constituem). E, depois, de coisas como a qualidade dos deputados, muitos deles "yes men" sem espírito crítico nem vontade própria, ou regras partidárias que põem em causa a função de representação e autonomia parlamentares, como o uso e abuso da disciplina de voto, que reduz a maioria dos debates na AR a um mero e inútil formalismo.
O que se passou no início da nova legislatura com a rejeição, autónoma e livre (enfim, ou mais ou menos...) pelos deputados de uma candidatura contranatura à presidência da AR e a escolha para o cargo de alguém com o prestígio de Assunção Esteves, foi, por isso, algo capaz de contribuir para o crédito da AR mais do que mil apelos públicos.
A AR ganhou pontos junto dos portugueses. Esperemos que não os desbarate na primeira oportunidade.

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