João Marques de Almeida
O título desta crónica ocorreu-me quando me lembrei do tema de campanha da primeira vitória de Margaret Thatcher, em 1979: ‘Labour isn’t working’.
As receitas trabalhistas, que no essencial dominaram a economia britânica desde o pós-Guerra até ao final da década de 1970, tinham fracassado, o que explica o "liberalismo" de Thatcher. Os anti-liberais portugueses revelam uma visão curiosa das governações liberais. Tomemos como exemplos os casos de Thatcher e Reagan (ainda hoje vistos como os grandes "falcões do neo-liberalismo"). Aparentemente, andaram anos a estudar afincadamente os clássicos liberais para, uma vez no poder, transformarem os seus países como se fossem laboratórios sociais. Uma leitura triplamente errada. Ignora a história americana e britânica, não entende a natureza da política, e não percebe o liberalismo.
Apostaria que Thatcher e Reagan não devem ter perdido cinco minutos das suas vidas, antes de chegarem ao poder, a pensarem no liberalismo. A "Dama de ferro" foi educada no ambiente do ‘one-nation Tory', a corrente menos liberal do partido Conservador. E Reagan era sobretudo um pragmático, sem grandes interesses ideológicos. Acontece que quando chegaram ao poder encontraram economias falidas. Thatcher exprimiu muito bem a natureza do fracasso: "os trabalhistas são óptimos a gastar o dinheiro dos outros". Ou seja, foi a situação crítica dos seus países que os levou ao liberalismo.
O que mostra, igualmente, a natureza da política e do liberalismo. Os nossos intelectuais e políticos anti-liberais, como resultado da sua educação ideológica, discutem o liberalismo com o quadro mental do Marxismo, como se fosse uma ideologia radical e revolucionária. Ora, o liberalismo não é verdadeiramente uma ideologia. Constitui uma atitude política e intelectual que defende um conjunto de princípios fundamentais para organizar e reformar a sociedade. Se quiserem, é uma "ideologia" anti-ideológica.
E é ainda anti-ideológica no sentido em que é utilizada para corrigir os exageros e os fracassos de outras ideologias. Em Portugal, houve uma revolução socialista entre 1975 e 1976 (a única no mundo ocidental). A partir daí, tivemos "momentos de reformas liberais", sempre com o PSD e o CDS: a primeira AD, as maiorias de Cavaco, e a segunda AD. Espera-se o mesmo da terceira AD. Mas foi sempre para corrigir os excessos revolucionários e os erros socialistas, e nunca como resultado de uma suposta adopção da "ideologia liberal". Foi a revolução socialista que obrigou os sociais-democratas e os democrata-cristãos a serem "liberais".
Mais uma vez, o país necessita de um "momento liberal", desta vez para garantir o Euro, permitir a criação de riqueza e reconstruir o Estado social, quase destruído pela governação socialista. Como afirmou, num momento de grande lucidez, alguém que conheceu muito bem essa governação, Portugal "precisa de um choque liberal". A dimensão do "liberalismo" de um governo corresponde ao nível do fracasso socialista. Cada vez que os candidatos à liderança do PS acusarem o novo governo de ser "ultra-liberal", estão, no fundo, a referir-se ao "ultra fracasso" do governo socialista.
____
____
João Marques de Almeida, Professor universitário
Sem comentários:
Enviar um comentário