sábado, junho 11

Pobre Portugal

Leonel Moura

Já aqui escrevi o que penso de António José Seguro. Nunca conheci político mais nulo, mais desinteressante, mais inculto.
Os seus discursos dão sono, os seus escritos são um chorrilho de má literatura e insignificância. Não se consegue passar da terceira linha. Ideias, nenhuma. Haverá muitos outros assim mas não ao nível de candidatos a chefe de partido. Seguro é um produto em tudo semelhante a Passos Coelho. Ambos subiram pela escada das juventudes partidárias, nunca fizeram nada de relevante na vida, não têm profissão nem talento particular mas, de algum modo obscuro, lá conseguiram chegar ao topo das respetivas máquinas partidárias. Não lhes invejo a sorte de tanta reunião enfadonha e refeição intragável que tiveram de engolir. Sucede que PS e PSD quando perdem eleições entram num tremendo rodopio de disparate. Os dirigentes passam da cumplicidade à confrontação. Os militantes, desorientados, agarram-se às piores escolhas e mais estapafúrdias decisões. Na confusão tende a prevalecer quem domina o "aparelho". Essa coisa que existe nestes partidos, ninguém sabe realmente o que é ou representa, e se assemelha a uma doença contagiosa. Má. Isto deve-se precisamente porque se estes partidos têm certamente aparelhos não têm pensamento. Não se estuda, não se discute, não se prepara o futuro seriamente. PS e PSD são sempre levados na onda da conjuntura. Não existe por estas bandas, de facto, um pensar estratégico a médio e longo prazo. Isso fica sempre para depois, normalmente para o dia de são nunca à tarde. É assim que o PS se prepara para fazer a primeira asneira após a derrota eleitoral. Até conseguir regressar ao poder, sabe-se lá quando, irá fazer muitas outras. De imediato, a escolha de Seguro, para além da sensaboria, significa a rendição total do PS ao governo de direita. Não por acaso é ele também o candidato preferido por essa mesma direita vitoriosa e pelos principais meios de comunicação. Que o levam literalmente ao colo desde há anos. O que o próprio manifestamente aprecia e que confunde com efetivo apoio popular. Mas também o que pode este partido fazer depois da hecatombe? Ao ter negociado e assinado o acordo com a chamada troika o PS vai ter de aprovar no parlamento todas as medidas escritas no papel e outras que delas derivam. Seguro, que é bom a andar para cima e para baixo em elevadores, irá protestar, simular indignações, mas no momento certo dará ordens à turba passiva de deputados para aprovar tudo. O PS vai passar um mau bocado. Tudo isto é contudo assaz desinteressante. Nos próximos anos a política portuguesa será medíocre e previsível. Teremos as trapalhadas habituais de qualquer governo em cujos corredores circule Paulo Portas e a sua mente viperina. Teremos as intrigas palacianas, o reanimar do saco de gatos que o PSD é em qualquer circunstância. Teremos as manifestações, as greves, as cargas policiais, os casos e os negócios obscuros, a ocupação do aparelho de estado pela esfomeada horda laranja, as decisões ruinosas para o país e, pelo meio, em nome do aleatório e da tentativa e erro, alguma coisa bem feita e acertada. Teremos também os discursos tão agressivos quanto inconsequentes de Louçã, esse exímio sempre em pé, e as tiradas patéticas de Jerónimo que, de tanto querer defender os trabalhadores e os seus amanhãs que cantam, cada vez vai dando mais força à direita. Daqui a um ano Portugal estará como a Grécia de hoje, pois o processo é em tudo semelhante. Só mudou a cor do poder. Nada de surpreendente portanto para quem já viveu alguma coisa. É nesta perspetiva que tinha pensado escrever hoje sobre a bactéria E.coli. Afinal uma bactéria é um ser bem mais interessante do que Seguro. E não deixo de constantemente me autocriticar por esta evidente dificuldade em escapar a uma conjuntura tão irrelevante. Há tanta coisa a fazer e a pensar. Tanta coisa a inventar e imaginar. Mas, mais uma vez, aqui estamos todos metidos nesta jangada de pedra em deriva, lenta mas imparável, para o reino da vulgaridade. Pobre Portugal. 

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